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Entrevista com Agnes Nunes: “A música era uma forma de colocar toda essa frustração com a humanidade”

Com apenas 17 anos, Agnes Nunes vêm deslanchando como um dos nomes mais promissores da atual música brasileira. A cantora baiana é mais um grande exemplo de artistas descobertos através da internet. Em seu canal no YouTube, Agnes já soma quase 10 milhões de visualizações e mais de 500 mil inscritos.

Em pouco tempo, os covers publicados na rede caíram na graça do público e também dos intérpretes das músicas gravadas – como é o caso de Xamã, considerado por ela um dos grandes responsáveis pelo seu crescimento artístico. “Eu comecei fazer cover aos 14 anos e  sempre fui muito fã do Xamã. Fiz um cover de uma música dele chamada ‘A Bela e a Fera’. Ele viu e me mandou uma mensagem dizendo que tinha gostado muito e me convidou para um projeto que, inicialmente, seria gravado com várias cantoras”, relembra Agnes.

Contudo, a voz suave e o carisma da jovem ganhou o rapper, que acabou fechando todo o projeto, intitulado ‘Elas Por Elas‘, junto com Agnes. “Eu vim pra cá (Rio de Janeiro) com a minha mãe para começarmos a pensar nesse projeto. E no final, acabou que a conexão foi tanta que a gente acabou fazendo as quatro músicas. Foi o primeiro projeto da minha vida, então eu sempre vou ter um carinho muito especial, assim como eu tenho com o Xamã, porque foi ele quem me ajudou. Praticamente quem me trouxe aqui para o Rio e, hoje, estamos na mesma gravadora”.

A relação de Agnes Nunes com a música começou ainda na infância, por influência da própria família. “Minha mãe sempre foi muito musical e desde pequena eu escutei muita música”. Mas foi a partir de um presente inusitado que essa paixão se estreitou. “Aos 12 anos, no dia das crianças, eu pedi muito um celular pra minha mãe. Mas ela sempre teve muito medo da exposição e do que um celular na mão de uma criança poderia causar se não for monitorado. E no dia, ao invés de um celular, ela chegou com um teclado”.

O que ela não esperava, era que o instrumento se converteria em seu principal refúgio para lidar com as dores, sentidas desde cedo, pelo preconceito com a cor de sua pele. “Eu morava em Sousa, no sertão da Paraíba, e sofri muito racismo. Até que teve um momento que eu percebi que a música era uma forma de colocar toda essa frustração com a humanidade. Tudo o que eu passava. E foi a partir daí que comecei a me dedicar e pensar ‘esse teclado pode ser meu amigo’. E, de fato, ele me ajudou muito para que eu me tornasse uma criança forte”, conta.

Com a carreira em ascensão, a cantora se desdobra em meio a pandemia do COVID-19 para divulgar as faixas de seu primeiro EP. O carro-chefe, “Rio“, foi lançado no início de julho e traz um R&B leve e envolvente.

“O projeto já estava programado, só que não contávamos com essa pandemia. E aí a gente teve meio que se virar nos trinta para adaptar. Todas as músicas já existiam, com exceção de Hiroshima, que a última que vai ser lançada desse RP. Só tivemos que finalizar em casa. O Neobeats (produtor chileno) está passando a quarentena aqui com a gente. E agora já estamos trabalhando no álbum que vai sair no final do ano”, compartilha Agnes, empolgada.

Com quatro faixas, incluindo “Rio”, o EP intitulado Romaria traz uma curiosidade em sua trakclist: todas as músicas contém o nome de uma cidade, em alusão ao título do álbum. Contudo, esta jornada espiritual está diretamente ligada às descobertas internas da cantora.

“Romaria é a peregrinação que algumas pessoas fazem em busca de um santuário. E nisso, elas passam por vários locais. Só que na minha interpretação, Romaria é a minha peregrinação em busca de mim mesma. O santuário que eu tanto busco sou eu. E essas cidades fizeram parte da busca de quem eu sou. Rio foi gravado no Rio. Lisboa teve o clipe gravado em Lisboa e São Paulo gravado em São Paulo. Hiroshima é a grande interrogação desse EP, porque foi a única cidade que eu não estive presente, mas  tive um sonho e acordei com isso na cabeça. Era a música que faltava no EP”, conta. “Hiroshima fala muito sobre ressurgir das cinzas, porque foi o que aconteceu com essa cidade, ela foi bombardeada e se reergueu. É uma música muito reflexiva e creio que muita gente vai se identificar também”, finaliza Agnes.

O próximo single, “Lisboa“, será lançado no dia 24 de julho, também acompanhado do clipe. E as demais, serão lançadas uma a uma, em sequência, até a formação do EP completo.

“Esse EP tá com uma pegada mais R&B. E modéstia à parte, não é porque é o primeiro EP não, mas está muito gostoso. Ele teve a produção inteiro de Neobats, que é um produtor muito jovem e isso me admira muito. Eu só posso dizer que está incrível”.

Ouça “Rio”: