Com 23 anos de estrada e considerada uma das principais pioneiras do movimento emocore no país, a banda Fresno chegou ao mainstream em meados de 2007 – época de ouro da extinta MTV Brasil -, embalados pelo sucesso “Quebre As Correntes”.
Ao longo desses anos, os gaúchos acumularam inúmeros prêmios, incluindo o internacional EMA em 2013 e uma indicação ao Grammy Latino em 2011. Além de 12 álbuns lançados, entre trabalhos em estúdio, EP’s e discos ao vivo.
O feito de se manter na ativa por tantos anos, conseguindo resistir às diversas mudanças, e exigências da indústria fonográfica não é para qualquer um. E como todo artista ou banda que se atreve a enfrentar esta realidade – muitas vezes cruel – do mercado, se depara com altos e baixos em sua carreira. E com a Fresno não foi diferente!
Desde a sua formação em 1999 até os dias atuais, a banda enfrentou alternâncias em vários pontos, como por exemplo, ir do sonho de assinar com uma das maiores gravadoras do Brasil ao corajoso rompimento de contrato por divergências na gestão, retomando a carreira como artistas independentes.
A movimentação de integrantes também marcou a trajetória da Fresno, como a saída do baixista Rodrigo Tavares, em 2012, ainda no auge do sucesso. Hoje, os únicos remanescentes da formação original são Lucas Silveira (vocalista) e Gustavo Mantovani (guitarra), acompanhados oficialmente de Thiago Guerra (Bateria).
O posicionamento da virada
Feito todo esse repasse na história da banda, chegamos a 2021, quando a Fresno lança o seu nono álbum de estúdio, intitulado “Vou Ter Que Me Virar“. O trabalho marca o extenso período pós-pandemia e vêm carregado de arranjos dançantes e letras mais politizadas, mas sem deixar a melancolia – marca registrada dos roqueiros – de lado.
O trabalho foi bem recebido pelo público de forma imediata, mas ganhou a atenção absoluta meses depois, em seu show de estreia no Lollapalooza Brasil, em março de 2022 e que, por pouco, não aconteceu.
Com o forte risco chuva e raios na região do Autódromo de Interlagos, a banda subiu ao palco no domingo, 27 de março, com pouco mais de 30 minutos restantes para se apresentar. Tempo suficiente para ser considerado um – novo – divisor de águas na carreira da Fresno.
Em meio a diversas manifestações contra o atual Presidente da República, o último dia de festival foi marcado por uma proibição do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que condenava em multa no valor de R$ 50.000,00 os artistas que se posicionassem politicamente durante os shows.
Mesmo com o ato de censura e o, quase, não acontecimento do show, os brasileiros subiram ao palco do Lollapalooza dando início à “VTQMV Tour” e, sem medo de retaliações, exibiram um gigante “Fora Bolsonaro” durante a faixa “FUDEU!!!”, de seu novo álbum.
Ovacionados pela plateia, a banda estampou no dia seguinte a capa dos principais jornais e sites de todo o país, se tornando um dos assuntos mais comentados na internet. E o reflexo disso pôde ser notado dias depois, com um aumento expressivo na venda de ingressos da, até então, recém anunciada turnê pelo país.
Noite de emoção, saudosismo e sold out
Neste sábado, 4, a Fresno desembarcou em São Paulo, na Audio, para o primeiro, dos dois shows marcados na cidade. Com ingressos esgotados, a banda trouxe um show ainda mais completo, com 18 músicas e quase duas horas de duração.
No repertório bastante equilibrado, os artistas trouxeram clássicos de sua carreira, como “Milonga”, “Cada Poça Dessa Rua Tem Um Pouco de Minhas Lágrimas” e “Manifesto”, além das faixas mais recentes, como “Vou Ter Que Me Virar” e “Já Faz Tanto Tempo”, gravado em parceria com Lulu Santos.
Mesmo tendo sido uma das maiores bandas de rock do país em meados dos anos 2000, o vocalista Lucas Silveira se mostrou, por diversas vezes, surpreso e emocionado com a quantidade de pessoas no local. “Onde vocês estavam esse tempo todo?”, perguntou em tom de brincadeira. O músico também afirmou que a banda “está vivendo o maior momento de sua carreira”.
O guitarrista Vavo também se mostrou surpreso com a recepção do público e, mesmo mais contido, também compartilhou a sua emoção. “Já tocamos aqui outras vezes, mas sério, nunca pareceu tão cheio”, disse aos fãs.
A prova de que a banda soube, como ninguém, se reinventar ao longo dos anos, estava impressa na diversidade do público. Na plateia, era possível ver pessoas mais velhas que os acompanham desde primeiros anos, mas também fãs mais jovens, que muito provavelmente não viveram a fase explosiva do movimento emo no país.
A Fresno se apresenta novamente em São Paulo neste domingo, 5. Os ingressos para o show extra também estão esgotados.
A agenda segue crescendo e a turnê segue nos próximos dias para São José dos Campos (19/6), Curitiba (9/07), Campinas (17/07), Ribeirão Preto (6/08), Natal (12/08), Recife (13/08), Fortaleza (14/08) e Rio de Janeiro (21/08).