No último dia 24, o rapper Ramonzin lançou em todas as plataformas digitais o seu novo single, “Gueto Feroz“, uma parceria com Djonga e carro-chefe do seu próximo álbum, em produção, com previsão de lançamento no segundo semestre de 2020.
A faixa foi lançada junto a um lyric video, assinado por Daniel W. de Andrade, que faz parte do coletivo de animadores e ilustradores audiovisual Dog Animation.
Na música, o artista passeia por uma outra vertente regada pelas batidas de funk do DJ Thai – do Heavy Baile. Tendo em vista que em seus trabalhos passados, Ramonzin trazia fortes referências da MPB em suas rimas, como é o caso de “O BPM da MPB”, que conta com um sample de “Samba e Amor”, de Chico Buarque.
Em entrevista ao Portal da Música, o rapper brasileiro contou um pouco mais sobre o atual trabalho, isolamento social e novas parcerias. Confira:
Gueto Feroz abre essa nova fase da sua carreira e traz uma forte crítica social na letra. Como foi a escolha da faixa como carro-chefe?
Ela foi escolhida como primeiro single por vir de um discurso que eu já faço ao longo da minha carreira, que é político, social, econômico, e por conta da mensagem forte e da batida. Eu pensei em adiantar, para as pessoas já entenderem o que vêm por aí no meu disco. Ele está muito baseado no ritmo e na potência do som, além do discurso. E nada melhor do que ‘Gueto Feroz’ para poder imprimir essa identidade entre um ponto e outro.
A música conta com a participação de Djonga, que é um dos maiores nomes rap nacional atual. Conte-nos um pouco sobre essa parceria. Vocês já se conheciam?
Eu não conhecia o Djonga. A gente já tinha conhecimento do trabalho um do outro, e já nos encontramos em alguns shows, mas não tinha um grau de amizade. Quem fez essa ponte foi uma amiga minha, a Sabrina Bueno, que me passou o contato e eu não tive muita dificuldade. Ele logo se identificou. Ele faz um tipo de rap que dialoga muito com o meu, que mora muito no discurso e na forma de ser. Ele é o que fala. Eu sou o que falo. Então, ficou muito fácil de organizar isso quando a gente começou a entender o que era o som. Eu sabia que viria algo muito bom. Ele tratou o meu trabalho com muito carinho e acho que isso é algo impagável, algo que eu talvez considere mais do que o próprio produto. Foi demais!
A música traz uma mistura do rap e funk. Essa é uma característica que podemos esperar nas próximas faixas do álbum?
Basicamente sim. Não é o total do disco, já que todos os meus trabalhos circulam por muitos ritmos. Eu sou um artista muito camaleão na questão de ritmo. É claro que eu vou tratar em todas as músicas, ritmos periféricos. Mas vai ter muito funk, sim. Muito funk com trap. Como também tem ritmos mais regionais, algo mais afro. Tem samba. Tem o boompap, que eu faço desde sempre, e é o rap raiz mesmo. E tem um toque muito forte de MPB. Acho que está bem misturado, mas acima de tudo bem dançante. Com um discurso bem afiado, mas com um ritmo bem dançante.
Muito tem se falado em aproveitar esse tempo de isolamento social como ócio criativo. Como tem sido os seus dias de quarentena? Tem sido dias mais produtivos ou mais reflexivos?
Tem sido dias de muita reflexão, ansiedade, ociosidade, mas também de criação, na medida do possível. Só que quando a gente para pra olhar, de dentro pra fora, a gente percebe que está todo mundo na necessidade de criar muita coisa. Ou pelo menos é que a gente tem visto as pessoas externarem isso, ou querer passar essa imagem. Então eu comecei a me libertar um pouco dessa obrigação de ter que criar algo, porque a gente está numa situação que fomos submetidos, e não por escolha. Isso é até algo que eu gostaria de passar. Você está numa condição dessa porque precisa estar. Então você não é obrigado a criar 24 horas por dia. Eu crio, na medida do possível, quando dá pra mim. Quando eu tô com tesão, com vontade de criar. E quando eu não estou, eu vou fazer outra coisa que me alimente melhor naquele momento. E tem vezes que você não quer fazer nada, né?! E eu estou respeitando essas etapas. E quando tenho ideias relevantes, aí sim eu aproveito pra escrever.
Por falar em processo criativo, toda essa situação tem sido um grande desafio para artistas e outros setores, que se viram obrigados a inovar e encontrar soluções para não parar. Como você encara isso? Acredita que essas mudanças serão permanentes e levadas em consideração nos planejamentos artísticos futuros, pós pandemia?
Claro. Eu acho que muitos procedimentos vão mudar. Isso pra além do setor artístico. Pro setor trabalhista, comportamental, de vida em si. Muita coisa vai mudar. Muita coisa vai ser abolida. E muita coisa vai ser aderida. Essa visão que a gente tinha de trabalho, de criação, de apresentação, algumas coisas vão ser levadas e outras não. A gente vai ter que se adaptar de alguma forma. Eu não sou a pessoa indicada pra explicar isso, mas já tenho visto muitas coisas que estão dando certo e outras não. A gente está descobrindo novas formas de lidar com o público, novas formas de vender, novas formas de interagir, novas formas de consumir arte. Eu, sinceramente, espero que tudo passe o quanto antes e que continuemos firmes. Não tenho nada contra o novo. Sempre que a ideia for boa, ela é bem-vinda. Então, estou apostando no que vem por aí.
O seu disco já tem participações confirmadas de artistas como Malía, BK, Luedji Luna e L7NNON. Como foi a escolha dessas parcerias? Podemos esperar outros nomes?
Essa galera toda tá no disco e, na verdade, é um disco mais colaborativo do que propriamente solo. Mas todos são muito relevantes. Foram escolhidos a dedo. São pessoas que eu já admiro faz tempo e agora eu tive a oportunidade de ter no meu trabalho. O BK que já tem uma carreira consolidada no rap, tem uma faixa muito pedrada com ele. O L7NNON, que é moleque novo, que eu já acompanhava desde a época do skate e que começou a rimar e mostrar o seu talento. Considero muito o seu talento. A Malía começou trabalhar comigo desde que eu entrei na gravadora, tem uma voz incrível. E Luedji Luna, com essa presença e a voz dela. Eu fiz uma faixa especialmente pra ela, pra gente passear um pouco desse universo que vai além do rap. Vai ser um ponto fora da curva, dentro do disco, no que diz respeito entre o rap e a música. Acho que álbum tá muito bem amarrado com as participações. Todas conversam e combinam muito bem o que aquilo que eu quero falar.