No Brasil para o “III Fórum Latino-Americano de Fotografia”, a mexicana Yvonne Venegas – irmã da cantora Julieta Venegas – apresenta sua obra “Inédito”. No espaço reservado para trabalhos de fotonovela, a fotógrafa mostra imagens realizadas nos sets de filmagens da novela “Rebelde” e durante a turnê da banda RBD, nos Estados Unidos.
Em entrevista exclusiva ao Portal da Música, Yvonne contou detalhes da obra que teve tiragem limitada de 2.000 cópias e tem sido um dos materiais mais disputados e desejado entre os fãs do sexteto mexicano. Confira:
PDM: Como surgiu o convite para fotografar os bastidores da novela e da banda?
Yvonne: O diretor do departamento de artes visuais da Televisa viu meu trabalho anterior e me convidou para fazer algo relacionado à novelas. Não sabíamos ainda qual seria a novela, mas já tinha adorado a ideia. O primeiro contato, totalmente positivo sobre o projeto foi com Pedro Damián, produtor de Rebelde, que na época estava em pleno auge e restavam apenas 3 meses de filmagens. Então, iniciei logo depois da conversa, pois as gravações já estavam acabando.
PDM: O que te motivou a fazer o livro?
Yvonne: Desde que comecei com esse trabalho, tinha planos de transforma-lo em livro. Minha ideia era publica-lo na primavera de 2007, e a Televisa ficou encarregada de fazer isso, mas não aconteceu e nunca me disseram o motivo. Nesta época, estive ocupada em outro projeto, mas assim que terminei, quis dar continuidade ao projeto de “Rebelde”, afinal, tem a ver com parte da minha vida, tem a ver com as celebridades. Ainda que tenha sido um projeto encomendado, era algo que já vinha pensando em fazer. Era também um projeto pessoal!
Em 2012 eu consegui fechar uma data para montar uma exposição com meu trabalho. Pela primeira vez mostraríamos essa série de fotos de “Rebelde”, porém, nunca foram expostas mais de 6 fotos. Era parte de uma retrospectiva do meu trabalho, com 6 séries que havia trabalhado ao longo destes 15 anos. Então, eu achei que tinha que lançar! Além disso, não sabia qual seria o meu ânimo mais a frente. Também estavam passando coisas na politica mexicana que começaram a se cruzar com o mundo dos espetáculos. Nosso presidente está casado com uma ex-atriz que era da Televisa. Anahí está namorando um governador do estado de Chiapas, e ambos são do mesmo partido. Ou seja, é uma história que vai se encaixando junto as idéias de acusações da Televisa, sobre a manipulação do público. É algo que está acontecendo no plano social e acaba cruzando a política com o mundo dos espetáculos. Era o momento perfeito por todos esses motivos e também era um trabalho que estava pendente para os fãs.
PDM: No começo, houve uma campanha na internet promovendo arrecadação de fundos para o livro. Em geral, como foi o apoio das pessoas com o projeto?
Yvonne: O apoio moral dos fãs foi o máximo. Faziam campanhas, mandavam cartas, pediam aos integrantes da banda para darem RT’s.No meu plano, os fãs comprariam o livro. Se durante a “pré venda” houvesse mais de 500 compras, o livro seria publicado. Mas, eu me esqueci de que a maioria dos fãs não possuem cartão de crédito por serem muito jovens, ou não terem dinheiro. Existiram fãs na contribuição, mas foi uma porcentagem mínima. Há colecionadores, amigos, conhecidos, amigos de amigos. O importante é que conseguimos. Era uma meta para mim, pois o trabalho já não havia saído por vários motivos e esta era uma possibilidade que estava na metade e se não conseguisse, não sairia nada.
PDM: Depois de um contato mais próximo com fãs do mundo todo, você sentiu que a banda continua tendo força no mercado, mesmo após o fim?
Yvonne: Eu acredito que os fãs já não são do mercado. Eles são fãs puros. Sinto que os fãs de Rebelde se apaixonaram por uma idéia e continuam perseguindo isso. Eu não sei o que tem de tão grande, mas os fãs que encontrei ou que me escreveram estão completamente apaixonados. Não sei dizer quantos são, mas se eles voltassem, o resultado seria imenso. Esta paixão e essa loucura para mim é fascinante! Sinto que é verdadeiro!
PDM: Mesmo convivendo com eles por tanto tempo e acompanhando de perto pelos bastidores, para você não há uma justificativa de tanto sucesso no mundo inteiro?
Yvonne: Eu acho que a versão que a Televisa apresenta não tem nada de realidade. A versão pelo qual os fãs se apaixonaram não é real. Eles são pessoas frágeis. Felizes, porém também são pessoas tristes. Por mais que os fã pensem que os conhecem, não os conhecem. Acredito que a paixão tenha a ver com esse cruzamento entre a realidade e a ficção. Na novela eram personagens, no palco eram um misto de realidade com a ficcção. Aqueles eram quem realmente as pessoas amavam tanto. Eu não conheço Anahí, não posso dizer que a conheço. Mas não acho que seja a pessoa que os fãs tem em mente. Não acredito que os 6 milhões de seguidores que ela tem no twitter, saibam a fundo quem ela é, mas ainda assim a amam. É um trabalho da Televisa, de convencer as pessoas que conhecem o ídolo de uma forma tão intensa. Eu não sei se o livro fez sucesso, pois só publicamos 2 mil cópias, mas minha editora já disse que não tem mais e estou com as últimas cópias. Para um livro de fotos e o mundo das artes, é sim um sucesso vender 2 mil cópias. Claro que não estamos falando do sucesso que tinha a Televisa. Eles vendiam 80 milhões de cópias, mas os fãs estão sendo maravilhosos comigo. Ontem encontrei uma fã que tinha tatuado “Dulce” e “Christian” nos braços. Essa loucura e essa intensidade são deles mesmo. São tão carinhosos, tão frágeis que me dá vontade de presentear a todos com um livro. Meu trabalho é difícil de entender e eles receberam de braços abertos. Chega a ser irônico, um trabalho que demorou para sair, que a Televisa não viu como arte, que ficou pendente e eles vêem com o coração, ainda que nas fotos seus ídolos não estejam perfeitos como na televisão. Ninguém reclamou! Não vêem como um produto estranho, ou com um olhar critico como os amantes de fotografia. Isso é ótimo, afinal, foi uma combinação louca que tive a sorte de fotografar. É genial que eles tenham recebido com tanto amor. Ninguém vai cuidar tão bem destes livros como os fãs.
PDM: Qual critério usou para selecionar as fotos?
Yvonne: Bom, foi o mesmo critério que uso para todas minhas imagens. É muito intuitivo o processo de edição. Tem que despertar algo dentro de mim. Imprimia e fazia diferentes combinações. O critério não posso dizer, pois não sei qual é. Mas, a mensagem principal de meu trabalho é mostrar a fragilidade do ser humano. As pessoas que estão preparadas para estar a frente de uma câmera são as que mais me interessam. Uma vez fotografados em momentos de fragilidade, provocam o efeito que eu quero. Por exemplo Anahí que sempre está feliz, bonita e de repente à vê triste, ou não sabe em que mundo está.
PDM: Qual foi a importância de fazer parte da história da banda?
Yvonne: Como eu disse, eu tinha algo para mostrar sobre as celebridades, e gostei muito de como pude interpreta-los. Me deram acesso total. Sou grata aos integrantes e a Pedro Damián, pois me deram o tempo e a liberdade de fazer o que eu queria. Me receberam como a sétima integrante do RBD, risos. Bebemos juntos, falamos de amores, foi divertido. Não me questionaram, nem me pediam para corrigir suas imperfeições nas fotos. Antes de lançar a campanha, os apresentei o projeto e todos tiveram a mesma reação e adoraram. Nunca tinham visto as fotos e foi uma chance de relembrar todo esse sucesso!
PDM: O livro sairá oficialmente no Brasil?
Yvonne: O livro está aqui na exposição e são as últimas cópias. Só me restavam 70 cópias e algumas já foram vendidas. Infelizmente não será reeditado. São as últimas peças!
No próximo sábado, 19, Yvonne Venegas fará a apresentação do trabalho ao público. A exposição ficará no Itaú Cultural, em São Paulo, até o dia 21. A entrada é gratuita. No local, também está a venda alguns exemplares de Inédito.